O DMT ou
dimetiltriptamina vem de uma família de compostos análogos a serotonina, é
sintetizado por todos os seres vivos e nos mamíferos a encontramos em grandes
quantidades em duas horas cruciais em nossas vidas, uma é na hora de nosso
nascimento, e a outra nos portais da morte.
Quando os níveis orgânicos aumentam fora
das condições anteriormente citadas, por ingestão intencional desta substância
em dose suficiente, seja por meio da ayahuasca, do yopo, do psilocybe, do Bufo
Alvarius, dentre outros, duas coisas passam a acontecer: Comunicação com
entidades percebidas como externas, capazes de articular informações antes
tidas como desconhecidas, identificadas através dos tempos como pessoas que já
se foram, divindades diversas, alienígenas ou partes inconscientes da mente
tornadas manifestas, a depender do contexto cultural; manifestação da sintaxe
de nossa linguagem como um elemento visual através da transformação da fala em
um instrumento capaz de criar, através do som de nossa voz, objetos ambíguos e
portanto impossíveis em nossa atual percepção tridimensional: corpos que
representam mais de uma forma ao mesmo tempo, trazendo para o domínio da visão
as aptidões da comunicação oral para o duplo sentido.
Em
nosso entendimento ordinário não há consenso sobre a natureza dessas entidades,
nem sobre as transformações simpáticas das quais elas participam, em grande
parte devido a nossa hostilidade frente a presença da dimetiltriptamina.
Hipotetiza-se que a DMT tenha papel importante nos sonhos: e não seriam eles
formas diminutas do ato fundamental dessa substância, a transformação de idéias
em imagens concretas? Talvez nossos sonhos sejam um degrau na escalada dos
níveis de DMT todas as noites, após o qual adentramos no universo das
triptaminas do qual nunca conseguimos nos lembrar. E de maneira a ratificar
essa hipótese, há a exceção de pessoas que já utilizaram a substância e relatam
lembranças de sonhos onde ocorreu uma experiência de estar nesse mundo.
Enquanto
a DMT unifica os sentidos da visão e audição ao permitir que ocorra uma
comunicação visual que incorpore os elementos ambíguos do mundo extra sensorial,
a escrita elimina da comunicação elementos da fala e separa os sentidos em dois
universos distintos ao reduzir as palavras a seus elementos básicos, despidos
de tons e variações pessoais. Sociedades que incorporam triptaminas como parte
integral de sua cultura expressam a crença em espíritos naturais que controlam
os ritmos dos rios e das prósperas florestas; sociedades que criaram a escrita
nos cenários áridos e por vezes desérticos de seus vales julgam-se capazes de
controlar, por meio de sua invenção, os ritmos de seus cenários inóspitos
através da agricultura, das cidades e suas estruturas sociais. O impulso de
controle da mente sobre a matéria conforme compreendido pela escrita mais que se
exacerbou na civilização ocidental, onde o alfabeto, favorecido pelas condições
extremas do Mediterrâneo, separou os sentidos como nenhum outro sistema de
escrita. Essa separação se ampliou a níveis inéditos com a invenção do livro
impresso, e mais tarde com a Revolução Industrial que possibilitou sua
reprodução em massa: caracteres uniformes que divulgavam uma separação entre os
sentidos com um envolvimento muito menor do que a escrita à mão.
Antes
da invenção da escrita, a humanidade vivia em uma relação de simbiose com a espiritualidade;
após a sua invenção, a DMT foi relegada ao papel de mistério, um segredo de
grupos restritos durante a Antiguidade, para então assumir uma posição de
substância obscura ou até mesmo desconhecida durante a Idade Média, ressuscitando
durante os descobrimentos guiados pelos livros impressos como heresia,
transformando-se com o progresso das novas mídias elétricas dos século vinte e
seguinte em uma substância mais aceita a medida que nossas tecnologias
convergem em direção aos cenários apresentados pelas triptaminas: já foram
formuladas várias teses do espaço virtual como um sonho, algo que assim como a
experiência da DMT captura os rígidos alicerces da realidade e os transforma em
uma sintaxe livre onde há irrestrita transformação pelas forças imaginativas.
Como
em tudo o que expomos ao público cabe o aviso, de que o uso leviano de todo e
qualquer conhecimento pode se transformar em uma pratica considerada danosa ao
seu operador inclinando-o aos vícios e qualquer outro tipo de efeito
retrógrado. Nossos antepassados tiveram contato com varias substâncias hoje
consideradas "drogas". A hipocrisia social imperante nos impede de
ver que a "dependência química", é algo novo, por ser filha da falsamente chamada "Ordem social" !
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