Muitos me perguntam pela Verdadeira
Vontade, a qual, povoa e tem povoado através dos tempos o imaginário de
milhares ao redor do mundo. Eu diria que a Verdadeira Vontade é o doce fruto do
idílico fenômeno da liberdade absoluta.
Se tua vontade é o trabalho, mas teu
corpo te arrasta para o sono, isto não é liberdade; careces, portanto, da
condição necessária à Verdadeira Vontade.
Se, por outro lado, tua vontade é o
descanso mas tua mente gera a ânsia do trabalho, isto não é liberdade; careces
da condição necessária à Verdadeira Vontade.
Se diante de uma mulher ou homem não
desejas sexo, mas as voluptuosas e belas formas dela ou dele te dominam e
te deixas arrastar sem consciência para a cama, isto não é liberdade; careces
da condição necessária à Verdadeira Vontade.
Se, em contrapartida, diante de
uma pessoa sentes a inspiração e almejas a união sexual, mas face
à imposição moral daquilo que te rodeia ou frente à tua
insegurança interna recusas aceitar o enlace, isto não é liberdade; careces da
condição necessária à Verdadeira Vontade.
Se diante dos maravilhosos sabores,
perfumes, texturas, sons, formas e cores do mundo, não desejas experimentar,
mas te deixas levar pelo fluxo irresistível da fantasia do pomar, isto não é
liberdade; careces da condição necessária à manifestação da Verdadeira Vontade.
Se mesmo diante da oposição do sonho da
razão queres seguir um impulso fidedigno do teu coração, mas te abandonas ao
descaso do cotidiano, corrompendo tua vontade aos ditames daquela, isto não é
liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.
Se dentro de ti tudo é dúvida,
incerteza, frustração e medo que te impedem de caminhar, isto não é liberdade;
careces da condição necessária à Verdadeira Vontade.
Se tua mente aponta uma direção, teu
coração outra e teu corpo ainda uma outra de modo que não consegues reconhecer
a direção correta a seguir e tudo é confusão, isto não é liberdade; careces da
condição necessária à Verdadeira Vontade.
Se diante das agruras do caminho te
submetes à amargura da dor e cais derrotado e sem forças para cumprir a meta
almejada, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira
Vontade.
Se diante do amor ao outro desejas
estar ali integralmente presente e aberto à compreensão, mas as palavras e
atitudes dele projetam tua mente para outras paisagens e estremecem teu
coração, isto não é liberdade; careces da condição necessária à Verdadeira
Vontade.
Se diante de ti e do mundo desejas
permanecer em silêncio absoluto, mas o burburinho externo te atormenta,
induzindo-te a buscar refúgio na reclusão, isto não é liberdade; careces da
condição necessária à Verdadeira Vontade.
A escravidão tem alcances e sutilezas
que a princípio são difíceis de detectar...
A Verdadeira Vontade não pode ser
adquirida atrás das grades daquela prisão, exige o vôo livre do pássaro que
alcança as mais incríveis alturas e descende aos mais profundos abismos sem se
deixar afetar por ambos.
Um homem livre é aquele que comanda com
destreza e prontidão todos os níveis de sua natureza, do submundo ao celestial.
Se teu próprio universo individual não
obedece à tua ordem e tens tantos senhores que não sabes qual desejo cumprir a
seu próprio tempo, como podes julgar ser livre? Os grilhões que te acorrentam
são muito mais profundos do que aqueles que apontas e acusas no mundo objetivo
que te rodeia.
Assume a responsabilidade sobre teu
próprio destino. Vence os condicionamentos irrefletidos, disciplinando e
refinando tua natureza a um ponto de tão profundo, amplo e absoluto silêncio
interior, que os apelos do mundo não te desequilibrem mais. Só então serás
livre e estarás apto a apreender em teu coração a canção do universo que te
revelará a verdade essencial da tua Vontade. Ainda assim, o som desta canção
será apenas silêncio, ausência de atividade cujo resultado é
ação firme e desempedida, a única e real ação e não aquela ilusão de
movimento que tu já tão bem conheces.
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